Um frentista me explicou que o colégio ficava diante de um pequeno cemitério. Não avistei exatamente o campo-santo, mas a capelinha mortuária que, supus, ocultava as lápides e as cruzes. Estacionei o meu terceira-mão, peguei o pacote de livros e atravessei a rua. Correndo. Não só por medo de estar atrasado, mas também porque chovia.Era… Continuar lendo Palestra sobre Leitura
Autor: Maicon Tenfen
Era uma vez…
Mal abriu os olhos, o E percebeu que o R e o A, seus vizinhos de palavra, aparentavam uma estranha pigmentação. — Onde estamos? — disse, esticando-se na base para enxergar melhor as adjacências. — Não percebeu ainda? — respondeu o U, tão antipático quanto o M e o outro A que o acompanhavam. —… Continuar lendo Era uma vez…
Literatura Clínica
(Crônica publicada nas priscas eras em que havia jornais impressos). De vez em quando recebo e-mails de pessoas que pedem conselhos de ordem financeira, profissional e até mesmo matrimonial. Nessas ocasiões, ainda que me sinta envaidecido pela consideração, costumo usar o pouco de bom senso que me resta e responder que nada tenho a declarar… Continuar lendo Literatura Clínica
Eu, Gulliver
Quando abri os olhos, enxerguei apenas uma mancha de céu azul. Mais do que as ondas quebrando no mar, ouvi vozes agudas que se misturavam e zuniam ao pé do meu ouvido. Ao tentar me erguer, surpresa. Meus braços, minhas pernas e até meus cabelos estavam presos por centenas de cordinhas firmemente atadas a estacas… Continuar lendo Eu, Gulliver
Cavar um romance
Sempre que termino de escrever um romance — como ocorreu hoje cedo — lembro do arigó que cavou um poço na casa do meu tio. Mesmo que na época eu não tivesse mais de 10 ou 11 anos, pude compreender a delicadeza da tarefa. Cavar poços exige experiência, sensibilidade e atenção. Por isso não digo… Continuar lendo Cavar um romance
Pérolas Literárias
Todos já devem ter recebido aquelas listas com as pérolas descobertas nas redações de vestibular. Exemplos: “O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.” “Em Esparta, as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.” “Oceano é onde nasce o Sol. Onde ele nasce é o nascente e onde ele desce é o descente.”… Continuar lendo Pérolas Literárias
Obras-primas que foram recusadas
Tenho uma pasta com alguns e-mails que recebi de editores recusando os meus originais. É a vida. Executando dois ou três abençoados, esse é o calvário de persistência que os escritores devem enfrentar antes de ver o seu livro publicado. Em momentos de desânimo, gosto de reler as cartinhas e despeitosamente lembrar que os editores… Continuar lendo Obras-primas que foram recusadas
Pra que escrever ficção?
Gostaria de responder a pergunta proposta pelo título com uma das muitas historinhas curiosas que encontrei em Desvarios no Brooklyn, um romance do escritor americano Paul Auster. É provável que não seja um dos melhores títulos do autor, principalmente se comparado ao Livro das Ilusões ou à Cidade de Vidro, mas se salva graças à… Continuar lendo Pra que escrever ficção?
Confissões de um romancista precoce
Quando eu tinha 19 anos e estudava Letras na FURB — curso de menina, diziam-me, e eu respondia que só os muitos machos são capazes de fazer provas de filologia sem chorar — usei as horas vagas para rascunhar as 380 páginas de um romance chamado O Filho do Feliciano. Depois de datilografado, revisado, reescrito,… Continuar lendo Confissões de um romancista precoce
O Homem Que Pronominava
De todas as manias de Telorêncio Catanduva de Aguiar, nenhuma se igualava à sua obsessão pelos pronomes e pela correção gramatical. Os colegas de trabalho o consideravam um chato de polainas e abotoaduras (sim, Telorêncio as usava!), pois a ele não bastava se exibir com a próclise, a mesóclise e a ênclise: sem modéstia e… Continuar lendo O Homem Que Pronominava