O Paradoxo das Baguinhas

É provável que você conheça algum desses sabichões que vivem de vomitar sua suposta sabedoria sobre a paciência alheia. Conheço muitos, ou pior, convivo com muitos, gente que sabe tudo de tudo, que dá palpites e pitacos sem parar, pouco importando se os ouvintes estão interessados em tanta chatice disfarçada de inteligência.


Bem, devo agora fazer uma confissão: fui um sabichão precoce! Meus detratores diriam que continuo sabichão, especialmente quando me meto a escrever sobre temas que ignoro, mas, no bem da verdade, hoje conheço o conforto e a segurança do meu devido lugar graças a uma lição que tomei na época em que tinha treze anos de idade. Foi uma lição tão instrutiva — e tão valorosa — que decidi batizá-la de “o paradoxo das baguinhas”.


Passo-a de lambuja, na boa, para que você também passe um corretivo no sabichão da sua área.


A história foi assim: havia um carpinteiro muito afamado e muito velho que estava consertando o telhado da nossa casa. Um dia recebeu uma correspondência e, por ser analfabeto, pediu que eu lesse a carta para ele. Prestei o favor cheio de um orgulho que rapidamente se transformou em soberba, vejam só, eu, que mal criara aquela penugenzinha básica debaixo do braço, lendo cartas para um sujeito que poderia ser meu bisavô. Dali para frente, comecei a tomar o tempo do carpinteiro para discursar sobre coisas que aprendia na escola.


Acho que no primeiro dia ele achou graça. No segundo, tolerou. No terceiro, de saco cheio, largou o serrote e disse:


— Então tá bom, ô piá, me responda uma curiosidade que tenho desde criança: por que a cabrita faz cocô em forma de baguinhas?
A pergunta era estranha e meio debochada, por isso fiquei quieto para ganhar tempo (sabichão que é sabichão também tem que saber a hora de se calar). Mas ele voltou à carga, rindo e acrescentou:


— Não é tu que sabe de tudo?


— Também não é assim, eu só…


— Responda de uma vez: por que a cabrita caga baguinhas?


— E eu lá vou saber?


— Tá vendo como são as coisas, moleque? Tu ficou esse tempo todo enchendo os meus ouvidos, mas a verdade é que não entende nem de merda.


Daquele dia em diante, passei a duvidar de tudo que eu sabia que não sabia. Ah sim, quase esqueço: o nome do carpinteiro era Sócrates.

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