As aparências enganam

As pessoas se preocupam demais com a aparência. Não que ela não seja importante — ela é —, mas não deve ser eleita a primeira das nossas prioridades. Até porque, como diziam nossos avós, se há algo que pode nos enganar direitinho, esse algo é a aparência.


Mais do que isso, podemos experimentar surpresas desagradáveis quando a aparência consegue ofuscar os detalhes e o essencial. Imagine um inimigo que se faz de amigo, um ladrão que se faz de santo, um ditador que se faz de libertador. Não é possível que você nunca tenha conhecido nenhum desses lobos em pele de cordeiro. Há exemplos por todos os lados, não? Atire a primeira pedra quem nunca enganou ou se deixou enganar pela aparência.


— Fazer o quê? — dirão as pessoas. — Lamentar a realidade em que vivemos é pouco para resolver os problemas do mundo.


O raciocínio faz sentido. Resta saber se um mínimo de lamentação — acompanhada de reflexão, vá lá! — seria tão inútil assim.


Vejamos o exemplo da mais explicita das aparências: a corporal. Os modelos de beleza de tempos atrás eram baseados em formas mais arredondadas e rechonchudas. Como podemos verificar em inúmeras obras de arte, houve períodos em que as gordinhas reinaram absolutas como fontes de desejo e inspiração. E hoje, como estamos? É até desnecessário dizer: as magras esqueléticas tomaram as passarelas e reinventaram as medidas do que seja uma bela mulher.


A mesma coisa aconteceu com a cor considerada ideal para a nossa pele. Mais ou menos até a metade do século passado, os homens usavam chapéus e as mulheres se protegiam do sol com sombrinhas porque ninguém queria ter o rosto ou os braços bronzeados. A grande diferenciação estética – e financeira, já falo disso – era possuir uma tez branca e se possível transparente, na época um símbolo de superioridade. Isso só acabou quando os ricos se aproximaram das praias e decidiram que era chique ser moreno.


Os fatos mostram, portanto, que os diferentes padrões almejados ao longo dos tempos não são universais, mas sujeitos a simples e vulgares determinantes econômicos. Raramente, no passado, mulheres subnutridas ou de pele escura pertenciam à nobreza. Graças a uma série de revoluções nos costumes, na alimentação e na medicina estética, hoje essa realidade se inverteu. As gordinhas e as branquelas é que simbolizam a plebe, já que seus atributos demonstram a falta de tempo e dinheiro para os tratamentos de beleza.


Talvez você considere esse tipo de análise maniqueísta e cruel, mas o objetivo é apenas reforçar o que nossos avós diziam sobre o assunto. As aparências, antes de representar a realidade, costumam nos enganar, e muito.

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