É difícil ser romancista no Brasil. Não me refiro às dificuldades do mercado editorial, aos direitos autorais, à escassez de leitores, a nada disso. Refiro-me ao fato de que o público brasileiro possui uma ideia muito peculiar do que seja um romance.
Tempos atrás, ao visitar escolas, costumava me apresentar da seguinte forma:
— Sou fulano de tal e escrevo romances.
— Que massa! — diziam as meninas. — Adoramos histórias de amor.
— Mas é que… bem… os meus romances não são de amor.
— Não? Mas pode isso? Ah, então não são romances.
Aí, de minha parte, seguia-se um discurso com firulas teóricas para explicar que um romance nada mais é que uma narrativa longa. Pode ser de aventura, de terror, de mistério, de polícia e ladrão, de costumes e.. pois é.. até amor. Resultado: as pessoas achavam tudo muito enrolado, perdiam o interesse pela palestra e — essa não! — pelos meus pobres romances.
Depois de um tempo, resolvi fazer como nossos vizinhos hispânicos, que chamam seus romances de novelas. No Peru, na Colômbia, na Argentina, não existe romancista, mas novelista, e todo mundo sabe o que significa. Já que em português a palavra novela também se aproxima do conceito de narrativa longa, passei a me apresentar da seguinte maneira:
— Sou fulano de tal e escrevo novelas.
— Novelas? — diziam enquanto eu estufava o peito. — Que legal, que máximo!
Mas a barretada vinha na sequência:
— Você trabalha na Globo ou na Record?
Então seguia-se mais uma explicação sobre gêneros literários, mais confusão na cabeça da plateia (e na minha!), mais desinteresse pela palestra e — que remédio? — pelas minhas pobres novelas. Tempos depois, resolvi me apresentar como contista, um simples e despretensioso contista, achando que todos entenderiam isso, mas logo começaram a me questionar sobre os contos da carochinha e, talvez por causa da minha prosódia de vigarista, sobre o próprio conto do vigário.
— Meu nome é fulano de tal — passei a dizer por fim — e sou escritor.
— Poeta! Temos aqui um poeta! Que chique!
Desisti de explicar e compreender que diabo de gênero eu escrevo.
Hoje costumo me apresentar da seguinte maneira:
— Meu nome é fulano de tal. Nada mais a declarar.