Matar ou morrer

Euclides da Cunha: morto num "duelo" com o amante de sua esposa

Superprotetora que é, minha mãe sempre me aconselhou a usar cinto nas calças e nunca brigar por causa de mulheres. Embora esteja até hoje matutando sobre o primeiro item do seu conselho, acho que desde cedo entendi a importância e a utilidade do segundo.

Não será tão grave levar uns cascudos e sair com o rabo entre as pernas se você brigar por futebol, política, ignorância ou religião. Se for por mulher, porém, danou-se.


Quem briga por mulher não tem o direito de guardar desaforo no bolso. É preciso passar do grito ao soco, do soco à facada, da facada ao tiro, do tiro ao canhonaço e do canhonaço ao atentado nuclear.

E principalmente — ai, ai, ai! — se a mulher estiver na plateia. Para quem adentra a lavanderia da honra, é preferível morrer ao voltar para casa com o nariz quebrado e sangrando.


Acho que foi por isso que os antigos inventaram o duelo. Uma disputa mortal entre cavalheiros armados com lâminas ou paus-de-fogo devia ser o melhor remédio para os males da honra.


E olhe que isso não era coisa da ralé, não. Ben Jonhson, por exemplo, dramaturgo e arqui-inimigo de Shakespeare, teve de escrever na cadeia depois de duelar com o ator Gabriel Spencer por motivos obscuros (dizem as más línguas que por causa da fogosa anã que costurava as roupas da companhia teatral!).


Também Alexander Pushkin, considerado por muitos o maior poeta russo de todos os tempos, foi alvejado num duelo por causa de… claro!… sua mulher, a bela e aristocrática Natália Goncharova. Em janeiro de 1837, Pushkin bateu com suas luvas de pelica nas faces de um oficial francês chamado Georges d’Anthès.


O motivo? Na frente de toda a corte de Nicolau I, o galinhão d’Anthès corria freneticamente atrás de Natália e, ofensa das ofensas, chegou a puxá-la pelo braço! Como profetizado numa de suas obras, Pushkin levou um tiro na barriga e passou dias gemendo e vomitando sangue antes de morrer.


Eça de Queiroz ridicularizou esse tipo de duelo — e de quebra, como costume, toda a burguesia lusitana — em seu romance Alves & Cia. Infelizmente, isso mão impediu que Euclides da Cunha, um dos grandes autores brasileiros da época, sucumbisse à tentação de comprar uma pistola e procurar Dilermando de Assis, o jovem amante de sua esposa, com o firme propósito de matar ou morrer.

Corria o dia 15 de agosto de 1909, um domingo de chuva. Euclides só não contava que seu rival fosse campeão de tiro do colégio militar e ainda por cima tivesse o corpo fechado. É que Dilermando não mandou somente Euclides para o panteão dos imortais.

Eliminou também o filho mais moço do escritor, Quidinho, que anos depois tentou vingar o pai.


Um par de tragédias literária! Pushkin morreu com 37 e Euclides da Cunha com 43. Às vezes fico imaginando as obras que esses gênios escreveriam se tivessem chegado à velhice. Mas não pensem que colocarei a culpa em suas esposas. Apenas direi que faltaram aos dois — e à literatura universal — mães que dessem conselhos como a minha.

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