Quando eu tinha 12 ou 13 anos, uma coisa inédita aconteceu na cidade onde morava. Graças à instalação de uma nova antena receptora, a extinta TV Manchete começou a “pegar” na região. Lembro que no canal passavam umas novelas muito ruins, mas o que interessava mesmo, pelo menos para o pessoal da minha idade, era a inusitada programação infantil.
As manhãs — e depois as tardes e em algumas épocas as noites — eram povoadas de seriados japoneses de ficção científica, os chamados “tokusatsu”. Como toda a gurizada do colégio, passei a acompanhar as aventuras do que mais tarde identificaria como os grandes personagens da Toei, a principal produtora nipônica a mandar os enlatados para o Brasil.
Cheios de uniformes coloridos, monstros e espadas fosforescentes, os episódios eram uma eterna repetição do mesmo, mas quem se importava com isso? O que queríamos era participar das cruzadas contra o mal empreendidas pelos ancestrais dos Power Rangers, pelo Jaspion e, especialmente, pelo Jiraya, o Incrível Ninja.
Apesar de tudo isso, hoje vejo que a minha pré-adolescência teria sido mais rica com a presença de um outro seriado, nunca veiculado no Brasil, que acabei descobrindo na internet: o Homem-Aranha Japonês! Parece incrível, mas essa bizarrice existiu de verdade.
No fim dos anos 1970, a Marvel Comics cedeu à Toei os direitos de adaptação do Cabeça de Teia. O problema — ou o barato da história — é que os orientais viraram a saga de Peter Parker do avesso. Ele não é fotógrafo, mas motoqueiro, recebeu seus poderes de um alienígena que veio do Planeta Aranha e, nos momentos de perigo, conta com a ajuda de um robô gigante chamado Leopardon!
Quem quiser conferir o espetáculo, basta digitar “Japanese Spider-Man” no YouTube. Muito do material está legendado em inglês, mas ninguém precisa de legendas para se mijar de rir com o jeito como Peter Parker, aliás, Tayuka Yamashiro, veste o uniforme.
EM TEMPO: o Homem-Aranha deve ser o super-herói americano mais propenso às “trasheiras” feitas pela indústria cultural periférica. Em 3 DEV ADAM (Três Homens Fantásticos), um longa-metragem turco, ele é o vilão e, pasmem, troca socos em plena mata com o Capitão América. É muito, mas muito mais engraçado que o seriado japonês. Um brinde à antropofagia e à internet.