Para se sentir menos exposto, resolveu ligar de um telefone público. Encostou o carro perto de um orelhão que viu nas imediações da Universidade. Olhou para os lados antes de abrir a pasta. Cuidadoso, dela tirou a página das acompanhantes, mas demorou a desdobrá-la porque teve a impressão de que as pessoas que passavam na calçada podiam ler seus pensamentos e adivinhar o que pretendia fazer dali a alguns minutos.
Assim, em vez de sair do automóvel com aquele suspeito pedaço de jornal, resolveu memorizar um dos números, o de Carol, a “ruivinha tipo mignon”. Discou três vezes. Ocupado. Deve estar atendendo outro cliente, pensou com repugnância. Remoendo sentimentos de autocensura, voltou para o carro decidido a ir embora. Chegou mesmo a ligar o motor, a engatar a primeira.
Antes de arrancar, porém, ainda uma vez olhou para a página das acompanhantes, ao lado, um pouco amarrotada e convenientemente escondida debaixo da pasta.
— Droga! — resmungou.
E memorizou um segundo número, o de uma “gatinha de 20 anos, morena linda e fogosa, faço tudo entre quatro paredes”. Saiu do automóvel, tornou a pegar o telefone, discou. Agora não estava ocupado, mas demoravam a atender.
De repente:
— Alô!
Era uma voz feminina, sem dúvida, mas que se fazia ainda mais feminina pelo acento alongado e forçadamente sensual. O sangue ferveu nas veias do professor, que engoliu em seco e se atrapalhou com a respiração. Imaginou uma mulher jovem e vestida de rendas, uma garota que sorria como Carol e que o esperava numa cama redonda com colcha e travesseiros vermelhos.
— Alô? — repetiu ela.
Com tantas imagens se misturando na sua cabeça, ele emudeceu porque havia esquecido o nome da garota. Não haveria um terceiro alô, por isso precisava dizer alguma coisa:
— Quem fala?
— Com quem deseja falar?
Como era mesmo o nome? Não adianta, não conseguiria lembrar, devia entrar no assunto antes que ela desligasse.
— É aí que… que fazem programas?
— É, sim. Com quem estou falando?
Não esperava que fossem pedir seu nome. Sem tempo para refletir, pronunciou o primeiro que lhe veio à mente:
— Roberto.
— Ok, Roberto. Quer para agora?
— O quê?
— O programa. Quer fazer agora?
— Talvez. Depende.
— Tá indeciso, meu bem? Depende do quê?
— Depende, ora. Como é que as coisas funcionam aí?
— Ah, sei lá, funcionam como em qualquer outro lugar. Já fez programa antes?
Resolveu mentir:
— Já.
— Então! É a mesma coisa.
— Quanto custa?
— Oitentinha, mas dura uma hora inteira. Nesse tempo você pode gozar quantas vezes quiser. Eu só não faço oral sem camisinha e não costumo fazer anal, mas posso abrir uma exceção se você pagar um extra e não tiver o pau muito grande.
Novo silêncio. O professor ficou um pouco chocado com a objetividade da negociação. Eram palavras automáticas, decoradas. Quantas vezes ela repetia isso num dia?
— Alô? — tornou a garota. — Ainda está aí?
— Estou, sim. O anúncio diz que você faz tudo entre quatro paredes. Não falava de pagamento extra.
— Tá a fim ou não tá, hein? Até agora ninguém reclamou do meu trabalho.
— Mas como é que vou saber se o anúncio é verdadeiro? Como é que vou saber se você realmente tem vinte anos?
— Só tem um jeito, meu bem: vindo aqui.
— Como é que faço pra chegar?
— Conhece bem o centro?
— Mais ou menos.
— Sabe onde fica o Edifício Cristóvão?
— Sei.
— Ao lado não tem um prediozinho de quatro andares?
— Acho que tem, não lembro, mas dou um jeito de encontrar.
— Ótimo. É ali que eu atendo. Toque a campainha do 342. Pode subir pela escada dos fundos. É superdiscreto.
Enquanto dirigia para o centro, viu uma placa de retorno e mais uma vez se deu conta de que estava cometendo um erro. Tudo indicava que seria melhor guinar para a direita ou para a esquerda — eram muitas as saídas — e voltar para a segurança do seu lar. Mesmo assim seguiu em frente. Uma força maior que o bom senso fazia com que se deixasse levar ao encontro da garota de programa.
E se for feia?, cogitou. E se for mais velha do que promete o anúncio? Simples: sairá de fininho, inventará uma desculpa, dirá que bateu na porta errada, não tem obrigação de ir até o fim só por causa de um contato telefônico superficial. Se houver reclamações ou o princípio de algum bate-boca, pagará pelo silêncio e pela calma da garota, tome, guarde o troco, os mesmos oitenta do programa, quem não gosta de receber sem trabalhar?
Nova placa de retorno. Tirou o pé do acelerador, mas continuou em frente. Pode gozar, disse ela, pode gozar quantas vezes quiser. Antes de libidinosa, a frase soava com ares de provocação. A voz do professor não era das mais cristalinas, e a garota certamente intuiu que não estava conversando com um garotinho. Quantas vezes quiser? Velhote! Quero ver se pelo menos uma você aguenta.
Entrou no estacionamento subterrâneo do Edifício Cristóvão. Preferiu pagar pela vaga, uma calamidade, a correr o risco de que lhe roubassem o carro na rua. Com um sorriso nervoso, imaginou se Irene seria capaz de acreditar que teve de ir até o centro só para comprar o café e o leite em pó.
Verificou se não havia conhecidos por perto, se não estava sendo seguido. Misturou-se aos pedestres, na calçada, e saiu à procura do tal prediozinho de quatro andares. Sim, estava ali, a pouco mais de cinquenta metros, explícito e acessível, só podia ser aquele. Esbarrou numa mulher alta e bonita, desculpou-se. Em vez de se zangar, ela riu com malícia, machuquei o senhor?, era como se conhecesse cada desejo e cada intenção do velho safado.
Por um momento, todos por quem passava pareciam achar graça da mesma coisa. Era patético que um homem daquela idade se prestasse ao papel de procurar uma prostituta em plena manhã de quarta-feira. Não, não, ponderou o professor, que besteira, eles não sabem nada, apenas têm pressa, quem hoje em dia enxerga um palmo diante do nariz?
Entrou pela lateral do prédio e logo encontrou a escada dos fundos. Subiu devagar. Ainda posso desistir, refletiu, basta ser forte e voltar para o carro, talvez consiga recuperar o dinheiro do estacionamento. Continuou, entretanto, e chegou ao terceiro andar.
Caminhou por um corredor escuro e abafado, sentiu um forte cheiro de mofo, algo pingava por perto. Ouviu vozes e choro de crianças, alguém tossia num dos quartos. Demorou a encontrar o 342, havia muitas portas, os apartamentos deviam ser minúsculos.
Esperou um minuto antes de tocar a campainha. E se fosse uma de suas alunas? A hipótese era válida. Todos sabiam que a Universidade estava cheia de garotas de programa, jovens que se prostituíam para financiar os estudos e os exagerados hábitos de consumo.
As consequências seriam nefastas, mas o professor não teve mais tempo para desistir. A porta se abriu numa pequena fresta, os olhos da garota apareceram, espiando. Sim, era morena. Linda? Ainda não dava para avaliar.
— Foi você que ligou agorinha?
— Foi.
Então a porta se abriu de vez. A garota esticou a cabeça para o corredor, olhou para os lados, preocupada, puxou o professor para dentro e tornou a se trancar.
— Desculpe — explicou. — Não quero que saibam que recebo homens no apartamento.
Ela não era linda como dizia o anúncio, não simplesmente linda, era muito mais que isso, era inacreditavelmente bela e encantadora. Descalça, usava um vestidinho curto, estampado, e sorria com todas as perfeições do seu corpo. O professor não teve mais vontade de renunciar à sua pequena aventura, muito menos de virar as costas, inventar desculpas ou voltar para casa. O medo, a cautela, a culpa, tudo desaparecia de repente.
— Como é mesmo o seu nome? — disse ela.
— Roberto. Desculpe, também esqueci o seu.
— Raquel.
— Raquel… Verdadeiro?
— Não, claro que não. A gente sempre usa nomes falsos. Pra despistar, sabe? Deixa que eu pego o seu casaco. Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigado.
Ela abriu a janela. Quase sem mobília, o apartamento era bem mais sóbrio que o corredor. O professor sentou-se numa cadeira e avistou a cama, no outro cômodo. Não era redonda nem possuía colcha ou travesseiros vermelhos, mas parecia limpa e aprazível.
Ela sentou-se logo à frente, com as pernas cruzadas. Pôs um dedo nos lábios, provocante:
— O que está olhando, Roberto? Aprovou a mercadoria?
— Confesso que é muito melhor do que eu esperava — ronronou, sem jeito. — Meninas como você não costumam ser reais.
— Que cavalheiro! Vai querer uma massagem pra relaxar?
— Acho que sim.
— Você parece cansado. É o trabalho?
— Provavelmente.
— O que você faz, hein?
Já que mentiu o nome, decidiu mentir também a profissão:
— Sou advogado.
— Tem família?
— Nossa! Vim parar num interrogatório?
— Não, não é isso, desculpe. É que gosto de conhecer as pessoas que deitam na minha cama.
— Olhando assim pra mim, o que você diz? Tenho família?
— Deve ter, né? Você usa aliança. E é um homem tão maduro… Maduro mas bonitão, não me entenda mal.
— A palavra correta é velho.
— Ai, tadinho, claro que não.
— Não precisa se desculpar, já estou acostumado. Sei que sou velho, mas até hoje nunca me faltou disposição.
— Hum! Quero ver, hein?
— E você, tem família?
— Tenho, claro, mas faz tanto tempo que não falo com a minha mãe… Ah, deixa quieto. Você não veio pra ficar ouvindo historinhas tristes, né? Quer tomar uma ducha antes de começar?
Raquel puxou o professor até o banheirinho de azulejos azuis.
— Aqui está a sua toalha — disse. — Pode deixar a roupa em cima do bidê. Já voltou, tá?
Ficou claro, pela atitude dela, que o banho não era opcional. Isso de certo modo agradou ao professor, indicava que ali havia certas normas e cuidados com a higiene. Assim como ele, os outros homens que frequentavam o apartamento eram obrigados a tomar banho e usar camisinha.
Olhou-se no espelho e enxergou uma face que não lhe pareceu familiar. Estranho que pertencesse a Genésio Campanelli, o professor, mais de trinta anos de carreira e de casamento, pai de dois filhos adultos, recentemente avô. Ao mesmo tempo, embaixo, sentia uma ereção firme e latejante, invejável, queria ver o garotão que tinha o mesmo vigor, ainda mais assim, sem trapaças, sem porcarias de farmácia, tudo na base da saúde, da raça.
— O seu tempo está correndo — chamou Raquel, da sala. — É melhor não demorar muito aí no banheiro. Não se preocupe que não vou espiar…
Despiu-se, fechou-se no box, ligou o chuveiro. A água estava quente e agradável. Tomou todas as precauções para não molhar os cabelos e não tocar em nada ao seu redor, especialmente o sabonete e os frascos de xampu. Lavou bem as axilas, o tórax e o membro, que se mantinha pulsante.
Levou um susto ao sair do box. Suas roupas não estavam mais sobre o bidê. Minha carteira, pensou, será que ela mexeu na minha carteira? Se mexeu, azar. Não encontraria grandes somas. Secou-se com certo nervosismo, enrolou-se na toalha, deixou o banheiro.
— Aqui — disse Raquel, e ele seguiu a voz dela.
Estava na cama, nua, deitada de lado, as pernas juntas, escondendo o púbis, e os seios à mostra, desafiantes.
— Vem cá pertinho de mim, vem.
— Você é muito bonita.
— Sou toda sua. Até às onze e meia
Ele se aproximou da cama. A toalha se desprendeu da cintura, cairia não fosse a ereção imbatível.
— Meu Deus! — sussurrou Raquel. — Acho que dessa vez peguei um peixe grande.
E delicadamente puxou a toalha.