Recolho algumas histórias de ladinagem, fatos idos, lidos, vividos, ouvidos e esculhambados, que adiante e adentro, por falta de melhor assunto, repasso ao repertório do leitor.
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Inesquecível é a da velhinha contrabandista, imortalizada numa crônica do também inesquecível Stanislaw Ponte Preta.
Diz que todo dia a velhinha passava pela fronteira montada numa lambreta com um suspeito saco de areia na garupa. Cismado, o fiscal da alfândega resolveu perquirir a distinta:
— Escuta aqui, vovozinha, o que é que a senhora tá levando nesse saco?
— Areia.
Claro que o fiscal não acreditou. Mas bastou revistar a bagagem para comprovar que no saco não havia contrabando nenhum. Passou a velhinha em pente fino no dia seguinte. Só areia, mais nada.
“Aí tem coisa”, pensou ele. “Talvez a velhinha passe um dia com areia e outro com muamba dentro daquele maldito saco.”
Deu uma semana de folga e de repente revistou a velhinha de novo: areia.
Mas não era possível, ninguém lhe tirava da cabeça que havia treta naquela história.
Resolveu se abrir com a vovó:
— Prometo que deixo a senhora passar. Não dou parte, não conto nada a ninguém, mas a senhora precisa me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando aqui todos os dias?
Antes de confessar, a velhinha relutou um segundo. Então exigiu que o guarda empenhasse a palavra. Não espalharia nada a ninguém?
— Juro — respondeu ele.
— É lambreta.
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Mas a maior mesmo quem me contou foi meu amigo Pedrinho Perimbó. Parece que em Lajeado Águas Negras, há um par de anos, existia um sujeito com cara de tolinho que respondia pela alcunha de Donizete Loló.
Todo domingo depois da missa, os rapazes da região colocavam duas cédulas sobre um parapeito de janela — uma de cinco e outra de dez reais — e convidavam o Loló para escolher.
Para a farra de todos os que assistiam à pantomima, o tolinho sempre preferia a de cinco.
Até que um dia, nervosamente contrariada, a mãe do Pedrinho, mulher muito apostólica e romana, chamou o Loló num canto e cochichou a dica:
— Nunca te ensinaram que a nota de dez vale mais que a de cinco?
— Ensinaram.
— Pois então, rapaz? Por que não vai lá, apanha a de dez e sai correndo?
— Obrigado, minha tia, mas o dia em que fizer isso a brincadeira acaba. Aí eu nunca mais fico com o dinheiro desses trouxas.