Tenho uma pasta com alguns e-mails que recebi de editores recusando os meus originais. É a vida. Executando dois ou três abençoados, esse é o calvário de persistência que os escritores devem enfrentar antes de ver o seu livro publicado. Em momentos de desânimo, gosto de reler as cartinhas e despeitosamente lembrar que os editores são seres carentes de inteligência. Além disso, parte considerável das obras-primas que hoje se encontram nas bibliotecas — ahá! — também foram rejeitadas numa primeira leitura.
A mais famosa das rejeições, creio, seja aquela que um parecerista do editor Ollendorf escreveu a respeito do clássico Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust: “Não consigo entender como um senhor pode gastar trinta páginas para descrever como se mexe e remexe na cama antes de pegar no sono.”
Para a diversão do leitor — e para o meu consolo — segue uma lista de rejeições — algumas engraçadas, outras irônicas, todas memoráveis — de livros que mais cedo ou mais tarde se tornaram emblemas da cultura ocidental:
— Não achamos que possa funcionar no mercado da literatura para jovens. É longo, de estilo antiquado, e cremos que não merece a reputação de que parece gozar. (Sobre a edição inglesa de Moby Dick, de Herman Melville).
— Cavalheiro, o senhor sepultou seu romance num cúmulo de detalhes que são bem desenhados, mas totalmente supérfluos. (Sobre Madame Bovary, de Gustave Flaubert).
— As rimas estão todas erradas. (Sobre o primeiro manuscrito de poemas de Emily Dickinson).
— Impossível vender histórias de animais nos EUA. (Sobre A revolução dos bichos, de George Orwell).
— Não faz sentido pensar numa publicação: o mau gosto do público americano não coincide com o mau gosto da vanguarda francesa. (Sobre Molloy, de Beckett).
— Deveria ser contado a um psicanalista, o que provavelmente se fez, e foi transformado num romance que contém alguns passos de bela escritura, mas é excessivamente nauseante, até para o mais iluminado dos freudianos. Recomendo sepultá-lo por mil anos. (Sobre Lolita, de Vladimir Nabokov).
— Pouco interessante para o leitor experiente e não suficientemente aprofundado para o leitor comum. (Sobre A máquina do tempo, de H.G. Wells).
— Convém dar-lhe o bilhete azul. O autor não tem futuro. (Sobre O espião que veio do frio, de John Le Carré).
— Meus Deus, meu Deus, não podemos publicá-lo. Acabaremos todos na prisão. (Sobre Santuário, de William Faulkner).