Playstation

— Vem cá um instantinho, filha.


— Ah, pai. Agora tô brincando com o Playstation que ganhei de Natal.


— Só um segundo, menina. Deixe esses videogames um pouco de lado. Hoje o pai vai te ensinar a raciocinar.


— Raciocinar?


— É. A ser esperta.


— Parece legal. Como é que se faz?


— Tente responder a minha charada: qual era a cor do cavalo branco de Napoleão?


— Azul?


— Não, filha, não. Preste atenção que a resposta já está na pergunta. Vou repetir: qual era a cor do…


— Já sei, já sei. É preto.


— Esses videogames, tá vendo? É branco. Cavalo branco, não ouviu?


— Ouvi. Só pensei que “branco” fosse o nome do cavalo.


— Tá, tá, tá. Vamos tentar outra charada.


— Ah, pai. Eu quero brincar com meu Playstation.


— Depois, filha. Primeiro ouça: qual era a cor da manga do colete amarelo de Napoleão?


— Quem é esse Napoleão, hein?


— Responde, vai.


— Azul?


— Claro que não. Por que você responde sempre azul?


— É minha cor favorita.


— Eu vou repetir: qual era a cor da manga amarela do…


— Amarela!


— Até que enfim você está aprendendo a ouvir. Agora só falta raciocinar. Colete não tem manga.


— Então por que perguntou a cor?


— Porque faz parte da charada. Não é legal?


— É. Posso voltar para o Playstation?


— Tenho mais uma charada: quantos animais havia na Arca de Moisés?


— Doze!


— Não adianta chutar, filha. É preciso refletir. A arca era mesmo de Moisés?


— Não sei.


— Claro que sabe. Quem construiu a arca?


— Napoleão?


— Ai, meu Deus do céu, assim não dá!


— Calma, pai, também não precisa arrancar os cabelos.


— É que você… as crianças de hoje em dia… vocês só pensam em… puxa!


— Mas eu tô começando a gostar dessa brincadeira de raciocinar. Tem mais uma charada?


— Tenho… mas… pensando bem, filha, vai brincar com seu Playstation, vai.

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